sexta-feira, 18 de julho de 2008

"Não estás mal. Não te pareces?"

Acabei de ler Crepusculário, mais uma vez, como todo bom livro que é lido algumas vezes. Achei graça ontem quando uma professora que estudou literatura uma vida toda e é um dos meus referenciais em conversas construtivas chegou pra mim e começou com um "tu que entende de Neruda, ...". Ah, antes fosse... seria tudo tão diferente... Fato é que nossas conversas em intervalo não têm preço e como aprendo com ela. Seja falando da época que ela chegou em Caxias nos anos 60 ou falando encantada sobre um livro. E eu que entendo de Neruda? Eu amo a humildade dela. O livro já tem destino certo mais uma vez... nunca pára em casa e eu gosto dele na rua.
O mundo seria mais justo se todo mundo fosse a Matilde de alguém.
Folheando O rio invisível, também dele, fico pensando onde estarão o José Roberto e a Marilena que, segundo dedicatória com letra impecável, em 1983 estavam vivendo bons momentos juntos. Aquelas palavras tão cuidadas e tão escolhidas pras dedicatórias... "estou escrevendo demais? Estou escrevendo pouco?". Anos depois comprei as páginas amareladas num sebo carioca. Nem Marilena, nem José Roberto por perto. Eu que lucro... além de algumas poesias encontradas em outros livros, tem textos maravilhosos...
Vontade de Fernando Pessoa, que tanto já apareceu por aqui, mas estou sem coragem de reler. Talvez uma chance pro Álvaro de Campos, o heterônimo azedinho e irônico. No mais, não estou pra toda aquela melancolia poética... são momentos. Dos 5 livros, nenhum sai de casa.
Volto ao romântico... mas aqui nem tanto:

A MARIPOSA dançarina
vai arder- com o sol- as vezes.
Mancha volante e labareda,
agora ficará parada
sobre uma folha que a embala.
Assim diziam: - Não tens nada.
Não estás mal. Não te parece?
Eu tampouco dizia nada.
E passou o tempo das messes.
(...)
Tudo passa na vida, amigos.
Passa ou perece.
Vai passar a mão que ordenou.
Passa ou perece.
Vai passar a rosa liberta.
Também a boca que te beija.
Água e sombra e o mesmo copo.
Passa ou perece.
Passou a hora das espigas.
O sol agora convalesce.
Sua língua tíbia me envolvendo.
Também me diz: - Não te parece?
A mariposa dançarina,
revoluciona,
e desaparece.

(Mariposa de outono)
Com dúvida, como algumas das minhas escolhas. A outra poesia deve ir via depoimento.
Bom final de semana :)

Nenhum comentário: